20 maio, 2012

Black (2005)

O conhecimento é a chave para ganhar o mundo neste incrível longa indiano.

     Michelle é uma garota surda e cega desde tenra idade. Sem a educação adequada, e com o medo e desespero dos pais, ela acaba por tornar-se uma criança medrosa, confusa e principalmente violenta. Tendo modos comparáveis a um bicho (não por total desleixo da família, mas pelo fato de que Michelle cresceu e ficou assim), os pais passam a não saber mais o que fazer. A última esperança encontrada para a garota é depositada em um professor especializado em pessoas como Michelle.
     Debraj Sehai, o professor, é orgulhoso, passa o dia bebendo e carrega uma melancolia seguida de uma força de vontade imbatível - embora isso se dê ao fato de nunca querer perder. Quando Michelle e Sahai encontram-se, ele observa como aquela garota tivera sido mimada e como ela fazia tudo o que queria. Percebendo o enorme desafio, Sahai começa uma longa jornada a fim de tornar Michelle capaz de ser independente, mesmo o pai da garota acreditando ser tal milagre impossível. Os métodos de ensino de Sahai não são nada convencionais, fazendo com que a família desconfie da eficácia do professor. Mas após a primeira palavra conquistada por Michelle, o professor é aceito por inteiro.
    Por todo o longa, há um forte debate sobre o antagonismo de luz e escuridão. Michelle nomeia seu mundo de "Negro" (título do filme) e o próprio Sahai comenta que a primeira lição ensinada não será o alfabeto como "a-b-c-d-e", mas sim como "n-e-g-r-o". A iluminação em praticamente todo o filme evidencia tudo isso: há uma cena em que o salão onde estão aluna e professor está escuro e a única luz vem de uma janela - que ilumina a bela relação de amizade que os dois começam a ter.
    Ao longo da evolução de Michelle, vemos que Sahai acaba depositando também sua esperança na aluna e passa, quase sem perceber, a doar-se por completo. A garota, que buscava um raio de luz em qualquer lugar, via no professor um caminho, uma vida. O professor, que mesmo não tendo deficiência alguma parecia lhe faltar algo, via na aluna uma maneira de mudar não só a vida dela, mas também a sua - o real significado de ser humano acaba por se concretizar. Mas muito além do drama vivido por Michelle, está o fato de que apenas com o conhecimento, o ser humano pode ser verdadeiramente livre. Ser ingnorante no mundo, não comunicar-se de forma alguma, é desejar ser devorado por ele.
    Vale ressaltar que o filme é baseado na obra autobiográfica da norte-americana Helen Keller, a aluna cega e surda, e sua professora Anne Sullivan. Antes desse belíssimo longa indiano dirigido por Sanjay Leela Bhansali, há outra obra cinematográfica intitulada  "O milagre de Anne Sullivan", que pretendo assistir.
    Helen Keller se tornou escritora e foi condecorada com diversos títulos e diplomas - inclusive o Cruzeiro do Sul, no Brasil.
    "Black" é um dos mais conceituados filmes da Bollywood e ganhou diversos prêmios em festivais.


- Trailer:

Ficha Técnica:
Título Original: Black
Direção:  Sanjay Leela Bhansal
País: Índia

10 janeiro, 2012

A Metamorfose (2002)


Angustiante e sutil, esta é uma ótima adaptação de um dos livros mais famosos da literatura mundial.

     Lembro que quando li "A Metamorfose" de Franz Kafka fiquei com um sentimento pesado de angústia. Não sabia o que pensar sobre a obra, tão
pouco o que Kafka quis falar sobre aquilo. Desisti de tanto pensar e tirei minhas próprias conclusões, sem querer ouvir críticos e donos da verdade.     
     Algum tempo depois descobri a façanha cinematográfica russa "A Metamorfose" (2002) e me empolguei na mesma hora para assisti-lo. Mas ao mesmo tempo relutei sobre a possibilidade daquele filme me levar novamente ao mundo de Gregor Samsa e sua família. E eu estava enganada.
    Gregor Samsa é um pacato trabalhador. Um homem comum. É amado pelos pais -embora sinta certa frieza por parte de seu pai- e alimenta sempre a cumplicidade com sua irmã violinista, prometendo-a colocá-la em um conservatório. Após um pesadelo no qual era perseguido por seu chefe - que, diga-se de passagem, qualquer um teria-, Gregor amanhece no dia seguinte transformado em um monstruoso inseto. E é a partir desse ponto que essa história toma rumos pesados.
     Este não é o único filme baseado em Kafka, mas é digno de admiração. O longa, dirigido por Valeri Fokin, mais parece uma peça teatral. Ausente
de efeitos tecnológicos exarcebados, embora o filme seja de 2002, ele não deixa nada a desejar. É composto de gestos, expressões, música e pouquíssimo diálogo. Há diversas cenas que devem ser exaltadas, como a irmã culpando Gregor de tudo e o closer em seu rosto enfurecido, ou a cena em que a família, mais o chefe, descobrem o que Gregor se tornou. 
     As cenas de câmera lenta, que mais parecem os próprios atores movendo-se bem devagar, é de fazer sentir o que eles estão passando. O filme nos transporta à uma atmosfera surrealistaque nos faz até sentirmos dó de Gregor Samsa, vendo ele ser esquecido e rejeitado por quem mais deveria estar ao seu lado.
     Um viva para a trilha sonora que dança perfeitamente com as cenas e a atuação impecável de Yevgeni Mironov (Gregor Samsa)- que também atuou na série russa baseada no livro de Dostoiévski, "O Idiota".
     A caracterização de Gregor Samsa também é algo a se notar, pois, para quem leu o livro, perceberá que há intenção de retratar toda a metáfora de Kafka.
     Embora não lembre tantos detalhes do livro, me atrevo a comentar que tive quase a mesma sensação de estranheza assistindo ao filme, que tive lendo ao livro. Embora a trama fique aberta à diversas interpretações, "A Metamorfose" é imperdível pelo simples fato de ser uma ótima adaptação de um dos livros mais famosos da literatura mundial, e seu respectivo autor, ser um dos mais reconhecidos.

- Optei por não postar nenhum trailer do filme pois o único vídeo que achei, continha mais spoilers que meu próprio texto.


Ficha Técnica:
Título Original: Prevrashcheniye
Direção: Valeri Fokin
Roteiro: Franz Kafka, Ivan Popov, Valeri Fokin

País: Rússia